terça-feira, 27 de dezembro de 2016

2016 foi...

um ano atípico. Eu não encontro um adjetivo que possa defini-lo. Talvez uma frase seja melhor, ou citação, aquela famosa da Roberta Miranda em seu Twitter "não sei o que dizer, apenas sentir".
Foi um grande ano para mim, e terrível para o sistema político e sócio-econômico do país. Foi um ano de importantes conquistas para mim, mas de muitas perdas e mortes para o cinema, a música, a TV e os direitos humanos.
Não me surpreende tanto porque eu passei a virada do ano de 2015 para 2016 em um velório, na minha casa. Via os fogos lá fora e o choro dentro. Depois passei por momentos em que os fogos eram só por dentro. Com o tempo a gente vai aprendendo a não expandir demais os sentimentos, ou deveríamos.
Foi o ano em que eu deixei de morar sozinha e voltei a dividir apartamento. Em que eu mudei de trabalho, de estudos, de círculo de amigos. Vi vários filmes, coisa que eu não fazia há muito, muito tempo. Tentei cozinhar mais, me exercitei mais, li mais, viajei mais. Chorei menos, falei menos, escrevi menos, planejei menos.
Descobri que podia fazer muita coisa, das quais grande parte eu duvidava. Entre elas, algumas assustadoras, e que, consequentemente, deixaram de ser.
Aproximei-me do que eu considerava repulsivo pra diminuir meus preconceitos. Afastei-me do que não dava pra manter por perto mesmo assim. Escolhi. Escolhi muito, escolhi por mim. Me declarei mais vezes e para menos pessoas. Só desejei feliz aniversário a quem eu via sentido fazê-lo. Exclui várias pessoas das redes sociais e da agenda do telefone, adicionei outras. Ri menos e mais verdadeiramente. Respondi com segurança e firmeza ao que era sem graça e não cabia.
Libertei fantasmas que mantinha presos por fetiche. Libertei pessoas. Libertei meu cabelo do alisamento, meu corpo da pressão de conseguir mais 10kg e fiquei contente, doando todas as roupas que não serviam a ele. Outras eu reformei, com a maquininha de costura que eu comprei.
Equilibrei-me para não jogar no buraco qualquer pessoa que pensasse diferente de mim, e as insuportáveis me permiti jogar no abismo do meu desinteresse.
2016 foi um ano diferente. Um ano de reconhecimento das limitações e de descobertas de inúmeras possibilidades a partir disso. Arrisco dizer que se não saio deste ano com saldo positivo, também não saio com dívidas. Tudo agora está em dia, encaminhado e limpo.
Eu, de fato, queria um adjetivo pra resumir 2016 mas não encontro. Talvez eu torne 2016 um adjetivo e use nas próximas ocasiões: "Isso foi tão 2016!"
É, foi melhor de uma maneira geral do que 2015, que superou 2014. Porque quando me lembro de 2014, sinto até um arrepio... Foi um ano tão 2013.




sábado, 17 de setembro de 2016

Coisas que aprendi e com quem

Comumente, temos a ideia que a vida ensina. Mas, para mim, durante este curso, foram as pessoas com quem tive contato as maiores possibilitadoras de aprendizado.

Aprendi que sensibilidade é algo que a gente pode não perder, pois mesmo depois de uma longa jornada de experiências, é possível chorar com a simples fala de um aluno. Obrigada, Symone.

Que o cuidado tem várias formas, e pode vir de maneira acolhedora ou "chute no joelho", mas que se a gente souber olhar, faz sentido. Obrigada, Elza.

Que não há necessidade de ser meiga para agradar, e com objetividade, pode-se cativar inúmeras pessoas. Obrigada, Ana Andrea.

Que falar pouco é uma virtude. Obrigada, Melina.

Que um olhar pode ser mais encorajador do que algumas palavras. Obrigada, Karina.

Que nem sempre é fácil ouvir e acompanhar um grupo que se movimenta de diversas formas, mas no fim dá certo. Obrigada, Cíntia.

Que os bastidores são essenciais, e nem sempre a gente lembra que é onde a mágica também acontece. Obrigada, Régina.

Que um cachorro quente pode salvar o dia. Obrigada, Dona Sivirina.

Que é possível ir e vir, e se fazer presente verdadeiramente. Obrigada, Bento.

Que se disponibilizar em determinados momentos pode ser crucial. Obrigada, Maísa.

Que conversar pouco e mesmo assim ser íntimo é qualidade de poucos. Obrigada, Sayô.

Que num olhar e num sorriso podem conter abraço. Obrigada, Bia.

Que uma risada e humor sarcástico fazem a gente se soltar muito. Obrigada, Viktor.

Que sabedoria e inteligência são encantos conquistados à duras penas. Obrigada, Ju.

Que timidez e recato não significam falta de abertura. Obrigada, Ana Paula.

Que podemos confiar à alguém, por intuição, o assumir de um lugar que não podemos mais. Obrigada, Ruana.

Que autenticidade, alegria e vida podem ser representados em uma só pessoa. Obrigada, Renata.

Que futebol, atenção e amizade une muita gente. Obrigada, Larissa.

Que é possível ver todos os filmes que existem e mesmo assim ter uma vida. Obrigada, Silvia.

Que apoio e dicas importantes fazem toda diferença. Obrigada, Zara.

Que um grupo pode fazer parte da nossa vida e nos sustentar em momentos que a gente quase esquece que é possível. Obrigada à todos!

V Curso de Especialização em Psicologia Clínica Fenomenológica
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Setembro/2016

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Família, Alma gêmea e Extraterrestres

A última vez que encontrei grande parte da minha família foi no réveillon. Não em virtude do mesmo, mas por ocasião do velório da minha avó. Minha família não é daquelas que se reúnem com frequência, não sabemos muito um da vida dos outros, mas as notícias correm e o momento para comentários e justificativas, com direito a julgamento e defesa, acabam por ocorrer nesses momentos. 
Bom, em certo momento, estava eu conversando com meu pai, que, por sinal, é uma excelente companhia em velórios. Sempre me junto com ele para comentarmos as gafes de cada um que passa, e é divertido. É um instante só nosso, ajuda a lidar com a tristeza e a gente se entende. Talvez só nós dois, já que quem nos vê rindo, certamente acha esquisito. É contra a etiqueta dos velórios. Mas nós nunca seguimos muito os rituais de cerimônias mesmo.
Nesse último veio a grande parte da família mais afetuosa, aquela que pergunta dos namorados à quem está solteiro; do noivado à quem está namorando; do casamento à quem está noivo; dos filhos à quem está casado. E o ciclo se repete com os filhos destes. Para eles, há sempre uma próxima etapa necessária a ser cumprida, eles fazem check-list de todo mundo pra atualizar suas visões.
Continuando, estava com meu pai quando chegou uma tia, dessas afetuosas, e eu já sabia o que estava por vir, afinal, minha irmã mais velha já era formada, casada e acabara de ter um filho. Coitada de mim. Eis que quase anunciada, chega a pergunta: e você? Quando casa e terá filhos? Larguei um sorriso e respondi na lata: Eu? Mas eu nem sei dirigir ainda! Meu pai largou outra risada, o que fez a minha tia soltar um sorrisinho amarelo e seguir caminho por entre os outros familiares, continuando a pesquisa.
Ele entendeu, era o que bastava. E continuamos a sós no nosso canto. Ora, disse ele, nem tirou carteira de motorista... Quanto mais todo o resto! Pois é, disse eu, não cumpri ainda as etapas pregressas.
Lembrar dessa história me levou à uma percepção profunda. Tá, nem tão profunda assim, mas importante. Eu tenho vivido tanta coisa na minha vida, as etapas que se sucedem a cada escolha têm me preenchido de uma maneira tão verdadeira, que acabou por derrubar de vez o sonho que eu tinha quando era adolescente de um dia encontrar a alma gêmea, casar, ter filhos, etc.
Talvez seja isso que as pessoas tanto querem dizer sobre a gente precisar aprender a viver só. Eu sempre fui uma pessoa solteira, mas não era uma pessoa livre. Eu estava sempre no tempo de encontrar alguém.
Reflexões e inúmeras sessões de terapia foram me conduzindo à outro encontro, o próprio. E chegar nesse momento é uma experiência tão gostosa, que só tem me feito querer estar o tempo todo comigo, focada nas minhas prioridades, cuidando-me e me respeitando, como eu acredito nunca antes ter feito.
O ponto é que isso tem deixado o meu mundo mais afinado e divertido, sem grandes interferências. Talvez eu só precise ficar atenta porque acostuma, é confortável demais viver no próprio mundo, e pode ser que outros corpos que se aproximem acabem por aparentar ameaça.
Deve ser por isso que eu morro de medo de extraterrestres, mais do que de aranhas e de fantasmas. A ideia de alguém de outro mundo chegar, impor certas coisas e misturar tudo por aqui pode bagunçar demais o que demorou tanto tempo e dedicação para ser construído.


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Reclusão

Eu entrei em um daqueles momentos de reflexão, a época fria passou e agora o sol e o calor ressurgem. O vento não é mais tão forte, e por isso as lembranças não voam. Algumas delas têm me rondado com mais facilidade esses dias, não me tocam, mas me olham. Eu as encaro de volta, analisando cada forma, cada palavra que a memória ainda não consumiu. 
É difícil enxergar todas elas inteiramente, porque a memória (aquela que, quando ruim, nos faz esquecer das coisas) é faminta e se alimenta de lembranças, os pedaços que ela come são cada vez maiores. Porém, há pedaços que não são comestíveis, ou talvez ainda grande demais para consumo, e esses são os que me rondam.
Agosto é um mês de transição e readaptação. As férias acabaram, e a rotina vai voltando aos poucos, o que me deixa mais cansada do que quando já estou completamente adaptada, a organização inicial demanda muita energia. O tempo tem me ajudado, tem corrido lentamente.
Olho à minha volta e vejo livros esperando para serem lidos, afazeres domésticos esperando para serem feitos, o almoço nem foi iniciado e a xicara de café contém uma dose restante que esfriou enquanto eu aqui escrevo. Tudo está a minha espera, e eu não tenho esperado nada. Nem mesmo esse texto segue a ideia inicial que tive ao começa-lo, minhas palavras costumam ter vida própria.
Esse é o momento em que careço de realocar as lembranças, do contrário elas me espalham e acabam por me incentivar a cometer atos impulsivos. Antes a memória se alimente delas do que elas se alimentem de mim, pois se o fazem, crescem, ganham poder e me tocam até que eu comece a agir por elas e não por mim.

Respiro fundo. Tudo está em silêncio. Eu sou silêncio. São 10h46 da manhã e desde a noite passada eu lembro daquela música que pergunta “do you remember me at all?” Porque eu sim.


quarta-feira, 8 de junho de 2016

Eu não procrastino

Desconheço a experiência de deixar para amanhã o que eu posso fazer hoje, e isso se estende a absolutamente tudo na minha vida. 
Se passo por um mal entendido, resolvo.
Se me interesso por alguém, tento.
Se quero ler, encontro um jeito.
Se quero não fazer nada, coloco no meio das minhas atividades.
Eu sempre dou um jeito de ter tempo para tudo e respondo à todas as minhas solicitações. Acredito que só assim consigo ter uma vida bem vivida, e venho fazendo o exercício diário de não me culpar por sempre arriscar.
Quem entra na minha vida precisa entender que eu funciono a base de resoluções diárias. 
Minhas amizades são mantidas como um compromisso sagrado.
Minha família, da mesma maneira.
Eu busco sempre dançar entre todas as minhas obrigações, não por obrigação, mas por determinação!
Vivo determinada pelos desejos do meu ser que clama a vivência de sempre me atender.
Talvez isso tenha o nome de teimosia para alguns, carência para outros, ou mesmo loucura.
Se esse é o modo errado de viver, que me perdoem todos os santos, quero viver como insana.



sábado, 9 de janeiro de 2016

Vaga-lume

Todo mundo é dominador de alguma verdade, e vive em volta dela como quem segue num caminho iluminado apenas por uma tocha. Neste percurso, há quem tenha tochas menores, e se ilumina também pelas tochas dos outros, e estes, ao enxergarem a vulnerabilidade daqueles, fazem questão de impor sua luz como a única saída.

É difícil aos que aceitam outras luzes conseguirem caminhar em meio aos que tentam impor as suas. Restam duas saídas: ou eles saem das grandes luzes e seguem seus caminhos um pouco mais isolados enxergando pouquinho a sua frente com suas tochas pequenas, ou aguentam a ferro e fogo os possuidores de tochas maiores jogando aquela luz, diminuindo as menores (ou mesmo fazendo-as sumir), sobre eles impositivamente. 

As boas intenções existem às tampas, sob a justificativa de querer o bem dos transeuntes que não conseguem enxergar muito longe. Se os pequenos aceitam as verdades dos outros, quase que obrigatoriamente viverão a remendar-se a vida toda, mudando o caminho de acordo com os maiores, sob a pena de cair em grandes abismos por sua teimosia de não saber seguir com a própria vida.

“Tome, tome um pouco dessa minha luz. Ela é melhor, veja! A sua é fraca, como você consegue caminhar sem essa? Não seja teimoso! Ah, essa sua teimosia em seguir do jeito que quer é tão condenável. Você vai se dar mal. Talvez mude um pouco se seguir com a minha, mas sem ela estará perdido”.

E o pequeno andarilho se confunde, estará sendo teimoso? Se esta foi a luz que lhe foi dada, deverá a todo custo abandoná-la porque não é válida? O que será que lhe falta enxergar que o outro afirma ver com tanta convicção? Porque ele não consegue ver?

Há transeuntes que, em meio a todas essas questões, abandonam a sua tocha e seguem os grandes, mendigando sua luz. Há outros que seguem com suas pequenas tochas, dando um passo de cada vez e em alguns momentos, aceitam um pouco de clareza de outras tochas, naqueles momentos mais difíceis. Há aqueles que há muito tempo abandonaram as suas e as dos outros, e seguem apenas os vagalumes. E por último, há um pequeno grupo que até aceita um pouco de luz exterior, mas vem tentando produzir a sua, como os próprios vagalumes. É possível enxerga-los por aí, quando se deixam ver. O cuidado deles é com quem quer aprisioná-los para sugar sua luz.


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Um Quarto de Século

2016 é o ano em que eu completo 25 anos. Um quarto de século. Alguns consideram pouco tempo, outros consideram uma idade chave para se dar certos avanços na vida. Eu considero um bom tempo. Se eu conquistei grandes coisas até aqui? Depende do ponto de vista.

Não alcancei o que sonhava aos 15, mas meus sonhos mudaram então não dá pra contar com isso. Posso dizer que os sonhos de agora, àqueles para curto prazo, eu estou realizando. Para isso, obviamente, eu tive que me tornar menos exigente e mais aberta à outras experiências. Sem contar as coisas que consegui sem ter sonhado antes, as surpresas das decisões tomadas em cima da hora, aos 45 do segundo tempo. Essas sim foram difíceis pra caramba, mas me fizeram feliz.

Hoje eu não tenho tantos amigos como antes, precisei podar a árvore (e o tempo se encarregou de outros). Hoje eu não saio com frequência nos fins de semana, nem ouço mais todo tipo de música. Hoje eu estudo mais, muito mais do que antes. Hoje eu prezo pelo meu apartamento, que é quase uma extensão do meu corpo. Moro sozinha, faço a maior parte das minhas atividades sozinha. E isso é bom.

Hoje eu moro em uma cidade que há menos de três anos jamais imaginei que moraria, nem desejava. Com isso descobri como as coisas podem mudar, como eu posso mudar. E por isso mesmo, tenho a sensação que me conheço muito mais. Defendo meus limites com unhas e dentes, mas ainda flerto com a linha tênue. Não aprendi a selecionar demais quem me acessa, mas aprendi a identificar aos poucos quem eu quero que permaneça. 

2016 começou de uma maneira inusitada e pesarosa. Houve um nascimento e uma morte, não só do ano novo e velho. Também se inicia com mudanças que foram plantadas em 2015. Inicialmente meu calendário de eventos já mudou, minha rotina também mudará, e só Deus sabe mais o quê.

Os caminhos que 2015 me indicou foram seguidos, e já não há tantos rastros. Os fantasmas também desapareceram, aparentemente. A única coisa que me segue é a sensação que não há outra vida que eu poderia estar vivendo além desta, e que daqui pra frente tudo pode acontecer.

2015 não foi um ano muito doloroso, foi um ano de transição entre o terrível 2014 e este 2016 que se inicia, ainda sem definição ou adjetivo. A minha única meta para 2016 é: não esperar nada demais. 

O que eu tinha de deixar ir, de forçar ir, de resolver para que não me tome por meu descuido, eu deixei, eu forcei, eu resolvi. Eu escolhi novamente por mim, eu me elegi para 2016.