segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Reclusão

Eu entrei em um daqueles momentos de reflexão, a época fria passou e agora o sol e o calor ressurgem. O vento não é mais tão forte, e por isso as lembranças não voam. Algumas delas têm me rondado com mais facilidade esses dias, não me tocam, mas me olham. Eu as encaro de volta, analisando cada forma, cada palavra que a memória ainda não consumiu. 
É difícil enxergar todas elas inteiramente, porque a memória (aquela que, quando ruim, nos faz esquecer das coisas) é faminta e se alimenta de lembranças, os pedaços que ela come são cada vez maiores. Porém, há pedaços que não são comestíveis, ou talvez ainda grande demais para consumo, e esses são os que me rondam.
Agosto é um mês de transição e readaptação. As férias acabaram, e a rotina vai voltando aos poucos, o que me deixa mais cansada do que quando já estou completamente adaptada, a organização inicial demanda muita energia. O tempo tem me ajudado, tem corrido lentamente.
Olho à minha volta e vejo livros esperando para serem lidos, afazeres domésticos esperando para serem feitos, o almoço nem foi iniciado e a xicara de café contém uma dose restante que esfriou enquanto eu aqui escrevo. Tudo está a minha espera, e eu não tenho esperado nada. Nem mesmo esse texto segue a ideia inicial que tive ao começa-lo, minhas palavras costumam ter vida própria.
Esse é o momento em que careço de realocar as lembranças, do contrário elas me espalham e acabam por me incentivar a cometer atos impulsivos. Antes a memória se alimente delas do que elas se alimentem de mim, pois se o fazem, crescem, ganham poder e me tocam até que eu comece a agir por elas e não por mim.

Respiro fundo. Tudo está em silêncio. Eu sou silêncio. São 10h46 da manhã e desde a noite passada eu lembro daquela música que pergunta “do you remember me at all?” Porque eu sim.


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