quinta-feira, 15 de março de 2018

Uma confissão

Eu preciso me confessar, preciso tirar esse peso de minhas costas. Meu coração já não pede, ele implora. Eu preciso abrir a caixinha dos segredos, e talvez eu até me surpreenda pois isso nem é tão segredo assim.
As pessoas na rua já me viram cometendo esse ato. Elas olham, não com reprovação, mas envergonham-se por mim. Aparentemente, eu tenho pouca vergonha, e por isso preciso me redimir.
Eu preciso me confessar, mas há tempos não vou à igreja. Não saberia nem por onde começar a falar. Quando tento falar para a família, as frases ficam curtas e não saem como eu sinto. Com os amigos é da mesma forma, eu tento me reduzir a justificavas curtas e diretas do porque ando assim ultimamente.
Talvez escrever me sirva de confissão, embora eu ainda não tenha decidido se publico ou não. Entende? É sempre assim. Eu devo confessar?
Talvez alguém compreenda e me diga que já passou pelo mesmo. Talvez alguém me recomende um chá de camomila para acalmar os nervos. Talvez alguém que anseie viver que nem bicho solto tanto quanto eu compreenda o impasse que é mudar isso. Será que é caso de prisão?
Eu já me sinto um tanto presa, não no mal sentido. É um cárcere bem armado, bonito, e de portas abertas. Estaria eu perdendo a razão por ter entrado aqui? Talvez eu deva logo confessar de que se trata, embora tenha medo da punição pós reconhecimento. 
Decidi, vou falar. Deixe-me organizar a frase, eu sei que sou prolixa quando fico nervosa, falo demais tendo pouca coisa a dizer. Vamos lá. 1, 2, 3... eu... é, eu me apaixonei. Eu estou amando! Ufa...
É estranho porque caminhei tanto sem longas paradas, e agora eu me vejo parada num só lugar. E eu, que tanto fui freelancer, hoje tenho carta registrada e um status. Talvez seja bom que eu busque um plano de saúde, para prevenir, sabe? Eu nunca passei por isso, não conheço os efeitos colaterais do amor. 
O que venho sentindo ultimamente, só Deus sabe. Eu venho girando em círculos, em volta de mim mesma. Eu acordo e vou dormir com frio na barriga. Aquela história de borboleta no estômago, eu já tenho um criadouro em mim. Daí falta o ar, às vezes. Depois vem um aperto de saudade que faz parecer que tudo está por um fio. Depois o dia termina, e o outro começa, e vem tudo de novo.
Não tem salvação, não é? Eu só posso aprender a viver com isso. E agora que eu confessei, percebo que não mudou muito. Será que eu deveria falar mais?
Deixe-me pensar. As músicas, os poemas de amor. Santo Deus, é como engolir um pote de açúcar e enjoar, por fazer tanto sentido. Digo mais? Ah, as declarações. Eu venho me declarando mais do que falando sobre o dia-a-dia. É um tal de “sinto sua falta e eu te amo” que se eu comesse um pedaço de bolo por cada vez que eu falasse isso, eu já estaria no meu peso ideal , talvez não tão saudável. E quem disse que eu estou saudável agora? Apareceram uns sintomas esquisitos, eu digo de saúde mesmo. O médico até perguntou se eu havia passado por alguma grande mudança. Olhei para ele e questionei “é pra falar mesmo?” Eu deveria ter confessado lá. Mas decidi fazer os exames primeiro. Voltei até a frequentar a academia, vai que o coração volta pro ritmo.
Ôpa, parece que recebi a sentença: isso é coisa de gente que é mais acostumada com não do que com sim. Vá viver, criatura! Ninguém controla coisa alguma. É destino de todos. 
Ninguém nunca me disse que eu me livraria dessa, só demorou um pouquinho. Mas também ninguém me disse que isso emaranha tanto as ideias que o corpo recebe também umas descargas de choque.

Feita a confissão e dada a sentença, declaro: minha vida inteira mudou e eu preciso conhecer tudo de novo. 


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